11.6.09

O exemplo

Por António Barreto

DIA DE PORTUGAL... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez. (…)

Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.
Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.
Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.
Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.
Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.
Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.
Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.
Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo “ethos” deveria ser o de servir.
Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar “sinais de esperança” ou “mensagens de confiança”. Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
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Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.
Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.

Texto integral [aqui]

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6 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Para documentar «a força do exemplo», escolhi, entre mais de 20 que tenho em arquivo, uma dezena de fotos bem elucidativas - ver [aqui].

11 de junho de 2009 às 13:04  
Blogger N R said...

Portugal precisa de mais "Peito(s) ilustre(s) lusitano(s)". Excelente discurso. Os nossos diregentes estavam ao seu lado, esperemos que tenham percebido (ou aceitado).

11 de junho de 2009 às 14:24  
Blogger Carlos Portugal said...

Muito obrigado, Doutor António Barreto. Não sei mais o que lhe dizer, senão o meu mais infinito obrigado, porque sinto que enquanto existir um português capaz de expressar as palavras que proferiu ainda poderemos ter esperança para a Pátria.

Obrigado, Doutor António Barreto.

Camões decerto teria gostado muito de o ouvir. E isso é o que mais conta no seu dia, recordando-nos da responsabilidade e do dever de sermos dignos da herança única de uma nação de oito séculos.

Bem haja!

11 de junho de 2009 às 16:57  
Blogger R. da Cunha said...

Um dos discursos mais conseguidos de que tenho memória no Dia de Portugal. Não estranho, pelo que conheço de António Barreto.

12 de junho de 2009 às 00:33  
Blogger F. J. Branquinho de Almeida said...

Foi o melhor discurso de muitos "10 de Junho".Parabéns, AB!
Só lamento que, passe o respeito que tenho por Camões e pelas Comunidades, não se terem "lembrado" os combatentes que tombaram no cumprimento dum dever que a Pátria (mal ou bem)lhes determinou. Especialmente, agora que sabemos ainda haverem muitos deixados para trás em sepulturas anónimas e cemitérios abandonados.
As feridas não se curam só pelo facto de as ocultarmos ou esquecermos!
Foi com os que tombaram que celebrei o "meu" Dia de Portugal!

12 de junho de 2009 às 16:50  
Blogger (c) P.A.S. Pedro Almeida Sande said...

Caro António Barreto

A força das sua palavras repousarão eternamente na minha memória. Portugal não precisa mais de iluminados ou de déspotas, Portugal precisa de lisura e ética. Essa devolveu-me nas suas palavras, e por si, por mim e pelos nossos antepassados, a luta continua, frágil, pacífica, pela palavra, mas recheada da única riqueza que teimamos em não vislumbrar: as jazidas de civilidade, equidade e rectidão. Como homens com o António Barreto, herdeiro dos melhores Portugueses e do melhor Portugal, com quem compartilhamos análise e sentido ético, brilha ainda em nós esperança em Portugal!

Tudo o mais são cadáveres adiados que nos consomem!

14 de junho de 2009 às 14:02  

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